quinta-feira, 19 de junho de 2008

CASO ESCOLA BASE A FERIDA QUE NÃO ESTÁ CICATRIZADA

Analisando os capítulos dez (O Juiz – Corregedor que Prende Por Telefone); 11 (O Gringo) e 12 (A Grande Barriga), do Livro “Caso Escola Base os Abusos da Imprensa” de Alex Ribeiro nos sentimos pasmos pela forma absurda como a Imprensa brasileira fez chocar o país em março de 1994, há exatos 14 anos, com uma “notícia” mentirosa que partiu de denúncia de duas mães, de que no estabelecimento de ensino denominado Escola de Educação Infantil Base, localizada no bairro da Aclimação, em São Paulo, onde seus filhos estudavam, eram cometidos abusos sexuais contra as crianças.

Fato que posteriormente à própria Imprensa tentou reverter, por ter se sentido seriamente culpada por tamanha atrocidade que havia cometido, contra os supostamente envolvidos, sem se quer lhes dar o direito de defesa. Podemos dizer que este caso é ainda uma ferida, que apesar de tanto tempo, não está cicatrizada.

Por telefone

O juiz corregedor, depois de decretar a prisão dos acusados de envolvimento no caso, autorizou por telefone que fossem recolhidos, sabendo que o laudo do exame do Instituto Médico Legal, feito nas crianças não era conclusivo e a Imprensa, ferindo todos os princípios éticos e morais se prestava a dar divulgação ampla no fato, sem sequer se aprofundar no assunto, com base apenas no que vinha sendo “informado” pela polícia.

Em meio a esse drama vivido pelos acusados, sem que tivessem o direito de se defender surge uma suposta mansão onde, as autoridades policiais e judiciais tentavam apurar uma situação que não existia, de que ali seriam cometidos os abusos sexuais contra as crianças.

Barriga

O americano Richard Harrod Pedicini, dono da suposta mansão, a exemplo dos que vinham sendo acusados anteriormente passou a ser indevidamente, um dos principais envolvidos, com a também mentirosa informação de que, na sua casa é que se dava o uso sexual das crianças, fato que foi provado ao contrário posteriormente, mesmo depois de Richard já ter sido também linchado pela Imprensa Nacional.

Esse fato que tenta envolver Richard Harrod Pedicini foi, depois da acusação infundada aos proprietários da escola Base, a grande “barriga” (notícia mentirosa), a qual foi alardeada pelos jornais Impressos e pela televisão, de que as crianças que foram levadas à suposta mansão, teriam reconhecido o local, a partir de um banheiro e de uma abelha confeccionada em pano. O inquérito policial caminhava vazio e diante de um fato que não existiu foi arquivado.

Leviandade e falta de ética

Segundo juristas que acompanharam esse suposto fato, que resultou na destruição da Escola Base, pela população. Este foi até agora o maior caso de erro, leviandade e falta de ética que já aconteceu na história da Imprensa brasileira na falsa acusação de pessoas inocentes.

A liberdade de Imprensa é um dos pressupostos do Estado Democrático de Direito. A Imprensa inclusive, testemunha historicamente o processo político e a própria edificação da sociedade. Porém, o que ocorreu no caso da Escola Base, foi uma seqüência jamais vista de desrespeito a princípios tanto de ética jornalística, como de princípios elementares de direito, onde uma versão que, se devidamente analisada, seria controversa e passível de investigação e diligências e o fato artificialmente foi aceito como verdadeiro pelos meios de comunicação, entendido como um massacre público e de fato foi, uma vez que a vida profissional e a dignidade dos supostos envolvidos foram praticamente destruídas.

O interesse social e coletivo

Se por um lado o Código de Ética do Jornalista dispõe em seu Artigo 5º que a obstrução direta ou indireta à divulgação da livre informação e a aplicação de censura ou autocensura é delitos contra a sociedade, por outro lado, impõe nos artigos 2º e 3º, respectivamente, o dever dos meios de comunicação publicar a informação de forma precisa e correta, além da divulgação pautada pela ocorrência dos fatos, tendo por finalidade o interesse social e coletivo.

Não se deve cercear a liberdade de Imprensa, de informação, de pensamento. Mas é importante que a Imprensa tenha em vista sempre o interesse público.

A Imprensa errou seriamente no caso da Escola Base destruindo a honra e a auto-estima de pessoas e não se tem notícia de que algum meio de comunicação ou jornalista foi punido severamente por isso. Ou foi?

Nenhum comentário: